4 de outubro de 2011

Bonequinha de Luxo – Blake Edwards


Aquela sensação maravilhosa de se assistir a um filme imenso, delicioso e emocionante, aconteceu com este filme, que estava guardado, esquecido na prateleira lá de casa há tempos. Este é um daqueles filmes que por puro preconceito, fui deixando de lado, para assistir um dia qualquer, quando não tivesse algo melhor. Quanto engano. Achava que pelo título original, ou pelo que eu ouvia falar, seria um filme ligado à moda, ou de uma maneira geral ligado a futilidades. De novo, que engano. Devo dizer que não sei, não compreendo, meu tico e teco não conseguem entender esta coisa, este glamour ligado à moda, aquelas moças esqueléticas passando na passarela e pessoas sentadas aplaudindo aquilo, aquelas roupas esquisitas que ninguém em sã consciência usaria. Que graça tem tudo aquilo? Não entendo. No meu inconsciente ligava este filme a este mundo. Um erro, grande erro.
Na verdade, este é um filme para ser visto e revisto com verdadeiro deleite. A futilidade passa longe. Da lugar a uma sutil elegância  e a beleza mágica do encontro. Da descoberta do outro e de si próprio. O encontro entre dois vizinhos e são eles Holly (Audrey Hepburn, esplêndida) e Paul (George Peppard), dois perdidos, dois solitários, que apesar do contato intenso com outras pessoas, pouco a pouco, só se acham junto a alguém quando ficam juntos. São dois (elegantes) sobreviventes, erroneamente classificados como garotos de programa. Seria perfeito chama-los de “malandros” como naquela velha maneira carioca de viver, tempos atrás. Ela conseguindo enrolar seus acompanhantes com os cinquenta dólares para ir ao toalete. Ele, sendo patrocinado por uma “decoradora” enquanto procura inspiração para seu segundo romance. Eles apenas se viram- com muita elegância, é claro - como podem. Que mal a nisso? As pessoas têm dentro de si tantos matizes de cores, que fica muito difícil defini-las. Quanto de amor e dor cada um carrega dentro de si? Holly se intercala entre a futilidade, a ingenuidade e a pureza, entre outras coisas, como numa corda bamba. Quem não faz isso?
Só indo atrás de um antigo clássico, para se assistir com clareza a um filme com um enredo tão bem construído e diálogos tão deliciosos. São muitas as cenas antológicas, como quando Holly e Paul se conhecem e em poucas palavras ela se descreve a ele, como uma pessoa sem posses ou vínculos, até o dia em que encontrar o “seu lugar”, que não sabe ainda qual é, sendo assim, nem seu gato tem um nome, pois como ela, esta ali ao acaso e por isso nem sequer tem um nome.
“Ela é uma impostora, mas uma impostora autentica”. Assim Holly é definida por um advogado vivido por Martin Balsan, para Paul, na cena da festa, e que festa. Parece que Edwards se especializou nestas cenas de festas e junto com Peter Sellers, seu parceiro em outras aventuras, como no hilário “Um Convidado Trapalhão” fez outras cenas de festas tão hilárias quanto esta. É de morrer de rir a cena em que uma moça em meio à bagunça, fica se olhando no espelho e ri pra valer, para em seguida começar a chorar ao espelho sem parar, já vale o filme. Assim como na compra do presente por dez dólares na tal da conceituada Tiffanys.
O drama também tem seu lugar no emocionante encontro entre Lulla Mae e o Doutor. Mas acontece que já não existe mais Lulla Mae, apenas em alguns momentos, como quando Holly canta “Moon River” na janela de seu apartamento e Paul se vê definitivamente apaixonada. Quem não ficaria? Interessante saber nos extras que os produtores queriam tirar esta cena da canção do filme, e com isso compraram uma briga imensa com a miúda Hepburn, que virou uma leoa defendendo sua cria. Ela venceu, e esta se tornou uma das cenas mais celebres do cinema em todos os tempos.
Por fim tem a cena final, com o gato na chuva, que eu sem vergonha nenhuma assumo que chorei e ri ao mesmo tempo. Deliciosamente chorei e lavei a alma de cinéfilo que pedia um filme assim tão fabuloso. Tão romântico.
Penso se assisti algo semelhante recentemente, e não acho nada similar, mas também os tempos são outros. A velocidade do mundo, da comunicação, da internet, nos tomando, talvez não permita algo assim. Mas sou um nostálgico. Sendo assim, talvez por penitencia, por só agora descobrir este tesouro da sétima arte, assisto novamente. Quem não viu veja, urgentemente, mesmo achando ser um filme de “mulherzinha”.
Ah! Lulla Mae, a tantas coisas pra se ver. E eu também estou procurando o arco-iris, logo depois da chuva.

2 comentários:

  1. Como dicen muchos, la película merece verse.

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  2. Olá!

    Quero fazer um convite à você que gosta de Cinema:

    Conhecer a história por trás do maior filme de todos os tempos "E o vento levou..."

    Estou fazendo uma peça teatral em que os personagens David O. Selznick, Ben Hetch e Victor Fleming mostram um pouco dessa loucura que, durante a produção, foi considerado "O maior elefante branco de Hollywood"

    confirme sua presença e deixarei um par de ingressos pra vc na bilheteria

    (depois diga o que achou, queremos muito saber!)

    Abrs

    FÁBIO CADÔR
    @fabiocador

    www.youtube.com/fabiocador

    fabiocador.blogspot.com

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