13 de maio de 2011

Deuses e Homens – Xavier Beauvois



Existem homens – e são poucos homens – que conseguem chegar a um estágio que os diferenciam dos demais. Abnegação, fé e determinação os fazem serem dignos de sentarem à direita do pai. No espiritismo são geralmente aqueles que não precisam mais voltar para este mundo de expiações. São aqueles que conseguem amar e entender o mundo e o homem sem as amarras da ilusão e do tempo. Estágio este, difícil de ser alcançado e entendido. A humildade alcançada por estes, os despem das fragilidades, e o que sobra é o amor, independente da religião.

Este belo filme conta uma história real, sobre oito guerreiros da fraternidade. Oito monges católicos que se instalam em um mosteiro na Argélia e lá vivem por um bom período se dedicando à Deus e ajudando aos necessitados locais, que o faziam e conviviam harmoniosamente, mesmo não tendo a mesma religião muçulmana da imensa maioria que os procurava, atrás de curas às doenças físicas ou espirituais. Mas a paz de seu monastério, não os livrou das tormentas do mundo externo e num determinado momento, eles se veem espremidos entre um governo ditador e cruel, e entre facções rebeldes contrárias a este governo. Passam a ser hostilizados tanto pelo prefeito do lugar, quanto os rebeldes. Argélia nos anos noventa, Líbia e outros países hoje em dia. Incrível como a mesma história triste se repete exaltando a imbecilidade humana. Mas o que fazer? Voltar ao seu país de origem – França – ou ficar ali correndo o risco de morte? Como chegar a um consenso? O embate entre eles se faz e após a decisão do líder deles e a adesão de todos os outros, decidem ficar, e na medida do possível, continuar o trabalho junto aos necessitados daquela região, que são os que mais sofrem, na miséria, com aquela e com “esta” guerra sem fim.

Muitos cânticos, muitas rezas e um andamento lento, digno de um mosteiro, fazem deste filme – aparentemente – um prato de difícil degustação para alguns. Mas mesmo, o mais ateu ou agnóstico que se aventurar, vai se emocionar com esta história incrível de bravos homens, pois independente da fé que os move, o que mais salta aos olhos de qualquer um, é a determinação e coragem dos oito guerreiros da paz. Entre cânticos e louvores a Deus, se louva também o cinema, seja pela força de seu elenco veterano e afiado, ou seja, pela esplêndida fotografia do filme, uma verdadeira oração cinematográfica. Uma cena já vale e diz muito sobre o filme, é quando eles se reúnem para uma ceia, quebram o silencio e se emocionam compartilhando a amizade, o vinho e a música. A imagem captada mostra a emoção de cada um, lagrimas nos olhos dos homens de boa fé, na tela e na plateia.

Muito se comemorou recentemente, a morte de um líder terrorista. Não a razão. Quando muito se demora a se retirar um câncer, mesmo extirpado, ele cria metástase e se espalha em pequenos focos pelo corpo afora. Este filme comprova isso, quando vemos aqueles homens caminhando no gelo frio da podridão humana. Mesmo sabendo que logo à frente, eles encontrarão o Sol, é tudo triste, mesmo sendo belo de se ver na tela grande do cinema. Grande filme, grandes homens, servos de Deus.

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