27 de agosto de 2007

Person – Marina Person


Umas das cenas mais emblemáticas deste documentário é quando Marina fala para a mãe: “Engraçado, quando meu pai era vivo, eu bem pequena, me lembro muito dele, mas não lembro de você”. Sinceridade explicita, que mostra o quanto existe da “presença da ausência” do pai em sua vida. Deve ser interessante crescer rodeada de memórias do pai amado, mas ausente. Ainda mais quando este mesmo pai é uma pessoa amada e respeitada por tanta gente.Mistura-se assim, a falta do pai e a falta de um genial cineasta, que assim como partiu prematuramente da vida da filha, partiu muito cedo do cenário cinematográfico.Um cineasta ímpar, que supostamente, teria uma carreira brilhante pela frente, pois já constava em seu currículo duas obras-primas: “O Caso dos Irmãos Neves” e “São Paulo S.A.”.
Este último, para mim, o segundo melhor filme nacional de todos os tempos. Só perdendo para “Macunaíma” , de outro cineasta que também partiu muito cedo

Lembro de ter assistido este filme na Rede Cultura quando ainda era um curta-metragem, não mudou muito, só que agora vemos mais imagens de entrevistas feitas ao cineasta, e mais imagens da família, muitas dessas imagens mostram claramente o amor de pai para as filhas, imagens do sítio da família, e na praia.E assim como Marina e sua irmã sentem, percebemos a ligação familiar, sentimos a ausência do pai, e sentimos a tristeza por partida tão prematura. Tudo aquilo que poderia ter sido e não foi.

Entendo quando ela diz que só se lembra dele, quando criança. Meu pai (biológico) também “partiu” quando eu tinha cinco anos de idade, e talvez pela perda, minha memória ainda lembre de muitas cenas da minha vida com ele, inclusive, nosso último encontro.Acho que a falta da pessoa amada, faz com que nossa memória se lembre dos momentos juntos e as outras lembranças são esquecidas. Até a data de sua morte, toda lembrança da infância esta associada a ele. Engraçado isso.

Nessa sua primeira direção, Marina faz um retrato sincero e nem um pouco melodramático, a respeito do cineasta e do pai. Só ela (ou a irmã) poderiam fazer isso, e acertou em cheio. O que mais me impressionou neste filme, foi a fotografia, como na última cena em que ela e a irmã caminham num túnel de trem ao som de “Glorioso São Cristóvão” de Jorge Ben. Seu pai deve estar orgulhoso. Agora vamos ver qual vai ser seu próximo passo como cineasta. O pai, de onde estiver, deve estar dando aquela força.

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