27 de março de 2007

Maria Antonieta – Sofia Coppola

Um tênis em pleno século XVIII seria algo fora de propósito, mas é algo palpável, um simples objeto. Mas o que fazer com os sentimentos invisíveis aos olhos, as aflições cotidianas, e aquele sentimento de inadequação, seja com relação à família, ao meio social, ou até mesmo a um outro país.

No seu terceiro e belo filme, Sofia Coppola nos fala novamente sobre solidão e deslocamento físico e moral. Em seu primeiro filme, contava a história de irmãs que preferiram o suicídio, ao convívio familiar e social a que eram submetidas. Já no seu segundo filme, levou a sensação de inadequação ao extremo, deslocando seus dois personagens principais para um país distante, bem diferente do que eles estavam acostumados. O Japão serviu de metáfora para um amor não consumado entre uma jovem filosofa e um ator coroa decadente, ambos tentando achar o seu lugar na vastidão do mundo que existe dentro de nós mesmos.

Já no seu terceiro filme, a diretora nos presenteia com sua versão pessoal para a história de Maria Antonieta, a última rainha da França. E baseando-se na história real, nos mostra o desconforto e inadequação da menina que se tornou mulher a custo de um acordo entre França e Áustria. Muito cedo, ela teve de deixar seu país e seus costumes para se tornar a mulher mais importante de outro país à custa de deixar tudo para trás. O resultado foi uma vida cheia de luxos e excessos, mas com o sentimento de não pertencimento à França sempre latente.

Uma das grandes sacadas do filme, é sua trilha sonora, tão criticada por muitos. As músicas que tocam no filme parecem nos mostrar a todo instante em que são inseridas, o quanto Antonieta estava “fora” de seus valores e forma de viver. Ao mesmo tempo, que chega a incomodar, mostra que com o passar do tempo, tudo pode se adequar. Tanto é que quando o filme chega ao final, já não achamos tão estranhos aqueles rocks em meio a aquele visual de séculos passados.

A diretora fala novamente em solidão – acompanhada do luxo e da luxuria - no seu terceiro filme. Talvez por achar que este é o grande tema da sociedade contemporânea. Mais uma vez acerta o alvo e nos brinda com um filme único, e principalmente com sua marca. Uma diretora, que assim como o pai que nunca teve medo de ousar (em seus bons tempos), segue firma e forte navegando contra a mesmice da indústria do cinema. Que venha o quarto filme.

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