21 de novembro de 2006

A Última Noite – Robert Altman

Nossa, parece até premonição, fui assistir ao filme do Altman ontem e ele desencarnou hoje. Fica até difícil falar sobre o filme. Parece até que o veterano diretor já sabia que este seria o seu “último filme”. O filme me passou uma sensação imensa de nostalgia e despedida. Parece que Altman, sabia que iria morrer em breve e quis dizer metaforicamente, adeus ao mundo do cinema, do qual ele foi um fiel servo, com um vigor incrível para sua idade, já que ele tinha um transplante de coração. Mas dirigia como um rapaz, cheio de vigor.

Não por acaso, este foi o filme de Altman que mais gostei desde a obra-prima Short Curts, filme que assisti umas quatro vezes só no cinema. Se em Short Curts eu tive a impressão que as pessoas estavam vivendo com um pé na terra e outro no precipício. Neste seu último filme, Altman parece nos mostrar como é o limiar da vida. Aquele momento em que as lembranças falam mais altas, e um alto senso de nostalgia toda conta da mente e dos corações das pessoas. Talvez, o momento mais significativo do filme seja um em que Maryl Streep e Lily Tomlin cantam juntas uma canção evangélica (canção também cantada por um dos personagens do filme Retratos de Uma Família) relembrando a mãe delas, pois no filme são irmãs. Afinal de contas o que é o tempo? Como podemos lidar com o que vivemos, nossas lembranças? E o tempo que resta?

Evocando uma estória baseada em fatos reais, de uma rádio que apresenta (va) música ao vivo e que está (va) sempre para fechar. Altman nos faz viver entre o passado e o presente de seu país. Não por acaso, todos os músicos que se apresentam, têm um forte laço com as tradições do passado. É como se Altman quisesse nos mostrar, ou melhor, fazer sobreviver, costumes e épocas que estão se extinguindo lentamente na América. Em nome de uma tal modernidade, personificada por Tommy Lee Jones no filme. Mas como Altman pode fazer o que quer “no mundo imaginário” do cinema, no seu filme ele morre. Mas na vida real não é assim.

Todos os atores estão soberbos no filme, a começar por Kevin Kline, que parece fazer o papel de alter-ego do diretor. Uma bela despedida de um diretor ímpar, que agora deve estar sendo recepcionado no outro plano por um belo anjo loiro. Alias, fico pensando se aquele anjo personificado por Virginia Madsen no filme, não seria um discreto pedido aos céus do diretor: “Se eu tenho que realmente ir, que seja com um anjo como este do meu filme”. Nada bobo este Altman. Descanse em paz.

4 comentários:

  1. É um filme delicioso, desses que fazem a gente sair do cinema sorrindo. Grande despedida de um grande diretor.
    Beijo.

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  2. é isso aí Alê! Já viu o Céu de Suely? Queria saber o que vc achou?

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  3. Oi, Beto.
    Vi "O Céu de Suely", sim. Achei incrível. Simples e delicado. Pra mim, talvez a maior surpresa do cinema nacional dos últimos tempos.
    E você, o que achou?
    Beijo.

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  4. Devo escrever sobre o filme em breve, daí você vai ver o que achei. Realmente, uma grande surpresa, já um dos dez filmes do ano para mim.

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