16 de agosto de 2006

Zuzu Angel - Sérgio Rezende


Lembro que há uns quinze anos atrás, assisti uns três domingos seguidos, uma peça teatral no TBC, em homenagem ao Chico Buarque. Era uma peça modesta, sem nenhum ator conhecido, que se não me engano, se chamava: " As Mulheres de Chico". Assisti a peça sozinho, e nas outras vezes, levei um amigo, tamanho entusiasmo pela peça. Era uma compilação das peças escritas pelo genial compositor, em que se apresentavam canções destas peças. Lembro que a canção que mais me emocionou foi sem dúvida nenhuma "Angélica". Na peça, uma mulher com um homem no colo, cantava comovidamente a canção, com um coro atrás que sempre vazia a primeira parte " Quem é essa mulher? Que canta sempre este estribilho". Ao que ela respondia: " Só queria embalar meu filho/ Que mora na escuridão do mar". Tão forte era aquilo, que fui pesquisar sobre a canção e então descobri a história de Zuzu Angel.
E que história. Chega a ser até estranho que só agora venha a ser feita uma adaptação em cima de tão rica vida, esta mulher maravilhosa, que enquanto viveu, sempre esteve um passo à frente das mulheres brasileiras. Ela foi a primeira a se firmar no munda da alta costura e exportá-la com forte carga brasileira, mostrando na sua moda, o Brasil. Criou os filhos sozinha, em meio a uma alta sociedade tradicional, e por fim, desafiou a tudo e a todos, pela memória de seu filho, assassinado pela ditadura, que depois fez o mesmo com ela.
Talvez pela história real de Zuzu ser tão intensa, o pior defeito do filme fica ressaltado. A impressão que tenho depois que o filme termina, e de que sobra história e falta filme para contá-la. Talvez este seja o filme em que enxergo melhor os defeitos de direção de Sérgio Rezende, entre todos as suas outras obras. Sua burocrácia, e mesmo falta total de poesia com as imagens chegam a incomodar. Não é à toa, que a melhor cena do filme, seja uma em que o genial e saudoso Nelson Dantas contracena com Patricia Pillar e não diz uma palavra sequer mas, ao mesmo tempo diz muito com seu silêncio. O filme seria muito melhor se deixasse um espaço para respirar e se contemplar mais. O que é demais vira de menos. Sobrando uma interpretação viceral de Pillar, talvez até o papel de sua vida. Em compensação, falta muita delicadeza à Sérgio Rezende. Parece até que sua direção beira o desleixo.
Mas mesmo assim, dou meus parabéns ao diretor,que mais uma vez, põe a cara a tapa e faz o que não vejo nenhum outro diretor fazer no Brasil, que são filmes baseados em histórias verídicas. Filmes políticos e importantes, por contar e evidenciar, aspectos para lá de importantes da rica (e pobre) história desse nosso Brasil. Lembro e até por isso, pretendo rever os filmes do Sérgio Rezende, pois lia críticas pesadas sobre seus filmes e não entendia o porquê. Lembro da Folha ter dado bola preta ao filme Mauá, e na época eu ter achado uma injustiça. Acho que com este Zuzu Angel, meio que entendi.
Sérgio continua com seus méritos por fazer este cinema tão necessário que ninguém faz. Mas torço para daqui algum tempo, algum outro diretor contar essa mesma história com outro ótica, pois Zuzu Angel merece.

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