18 de agosto de 2006

Os Fuzis – Ruy Guerra


Quanta seca, quanta miséria, Deus meu!

Ainda sobre profundo impacto - apesar de ter assistido ao filme há dois dias atrás na mostra sobre este maravilhoso diretor no CCBB- por causa desta obra máxima do cinema novo. Vejo-me tentando achar palavras para descrever algo que saiba traduzir um pouco, a força e o impacto, que este aclamado filme me passou.Quanta força, quanta densidade! Primo-irmão de outra obra máxima do cinema novo, o clássico “Deus e o Diabo na Terra do Sol” de Glauber Rocha, as semelhanças são imensas. Ambos se passam num nordeste seco e árido, ambos mostram o nordestino lutar contra a fome, se apegando a religião, não como forma de alienação, mas de escape e esperança, para não enlouquecer em meio a tanta miséria e fome.

Vemos em Os Fuzis, a seca avassaladora, o sol inclemente, maltratar o nordestino, devastando a natureza da terra e a natureza do homem, que se apega à religião e a promessas a Deus pela tão sonhada chuva.

Bicho-homem lutando por um punhado de farinha e a ajuda de Deus, pela chuva, que não vem, não senhor.

Em meio a crianças famintas, vemos chegar “os macaco” com seus fuzis em um povoado no meio do sertão, afins de proteger a propriedade privada, um depósito com um carregamento de farinha, para que não haja saques. Um depósito cheio de farinha, enquanto do lado de fora, crianças literalmente morrem de fome. O povo reza e cultua um boi em oferecimento a Deus, para que a chuva chegue.

A chuva nunca chega e os instintos mais primitivos afloram nos homens. Os soldados com seus fuzis, homens comuns, até covardes, como o personagem de Hugo Carvana, com os fuzis nas mãos, se transformam. Uma clara crítica contra as armas e o poder militar. Nelson Xavier (esplendido) e Maria Gladys se debatem que nem bichos no cio, numa cena lindíssima, até consumarem o ato de amor.

Um pai chega no bar com o filho no colo, morto pela fome. Quer um caixote para enterra-lo. Um caminhoneiro se rebela por tanta miséria. Os fuzis finalmente funcionam e cantam seus tiros mortais.

A chuva não veio, e o boi é sacrificado, com o povo ensandecido lutando por um naco de carne em meio ao sol escaldante.

Tudo muito forte, muito intenso. Uma obra-prima! Uns dos melhores e mais doídos filmes de todos os tempos, que só agora tive o amargo privilégio de apreciar. Obrigatório a quem quer que seja. Mas para se assistir no cinema.

2 comentários:

  1. é o melhor filme do guerra. o engraçado é que o segundo melhor é A Queda, continuação da história dos personagens anos depois...

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  2. Com certeza, Sérgio. Imagina se não estou doido para assistir A Queda. Pena ~que não bateu os horários. Aliás, não sendo ingrato, que cinema ruim aquele do CCBB, hein.

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