24 de julho de 2006

Factótum Sem Destino – Bent Hamer


Dá para entender o fato de muitos não gostarem deste filme, apesar dos elogios recebidos. O filme mergulha no álcool e principalmente no tédio. Filme independente, de baixo orçamento.Com um enredo sobre um bêbado errante e entediado, consegue adentrar nessa atmosfera sem nunca exagerar na dose, é um filme sóbrio e simples, que narra a história de um bêbado e suas namoradas tão bêbadas quanto, personificadas, ora por Lilly Taylor, ora por Marisa Tomei. O personagem principal, vivido muito bem por (inacreditável) Matt Dillon , vive entre seus porres e um tédio imenso pela vida, que ele gosta de observar para suas escritas.

Acompanhamos a vida nada familiar de um bêbado, que vive entrando e saindo de empregos, às vezes ficando empregado por poucas horas até. Apenas para manter seu vício de bebidas, jogo de cavalos e sexo (não necessariamente nesta ordem), e se dedicar ao que realmente lhe interessa e no que acredita, que é a literatura, mais especificamente, sua própria escrita, já que numa determinada hora, ele declara que quando bate a insegurança, dá apenas uma olhada na escrita de outros escritores, para perceber que esta no caminho certo e a melhor escrita é a sua mesmo. O filme é sempre narrado em 1º pessoa, pelo seu protagonista Henry Chinaski, personagem de um dos livros de Bukovski (o qual o filme se baseia), que em certo momento comenta que quem quiser ser realmente um escritor, pense bem, pois irá ter de abrir mão de tudo, pois a escrita exige tudo de si. Não há meios termos.

O que mais chama a atenção é a determinação de Chinaski, todas as suas outras atividades parecem, e o são, base de observação para depois serem utilizadas em seus contos. Nada mais importa a ele. Mesmo passando o maior aperto, ele não liga, seu foco, seu objetivo já está pré-determinado.

Pessoas assim são admiráveis. Tenho uma amiga, que desde muito cedo, colocou em sua meta de vida ser atriz, e ainda hoje, depois de anos e ano, não ter conseguido de fato se firmar nesta profissão, continua lutando, ora com uma ponta aqui, ora com um comercial de TV ali, mas não importa, seu combate e sua maior ambição continua sendo sua meta de vida.Para uma pessoa como eu então, que parece nunca terminar algo de concreto, e se vê por vezes, perdido entre tantos quereres, isso tudo é mais que admirável.

Factótum é simples e direto, não há frescuras em sua fotografia (sua câmera parece sempre estar parada), e muito menos em seu enredo que, sem glamour nenhum, conta a história de uma pessoa, que não tem e nem quer ter uma história, pois se vê como um observador, que à base de álcool e cigarros, nasceu para ver e escrever o que vê no mundo, e quem sabe tirar algo que preste de vidas tão mundanas e pequenas. Mas será que são pequenas? E o filme será realmente tedioso?

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